Portabilidade de salário: cuidado com novo golpe praticado por bandidos

Saiba como se proteger



Por Felipe Demartini

O susto de ver o salário desaparecendo em um período de dinheiro contado e valores cada vez mais altos nas contas está se tornando, infelizmente, cada vez mais comum. Usando documentos falsos, criminosos estão aplicando o chamado golpe da portabilidade, abrindo contas digitais e solicitando o processo de transferência dos valores em nome das vítimas que, muitas vezes, só percebe que algo aconteceu ao não receber o pagamento no início do mês.

É um reflexo direto da quantidade cada vez maior de dados disponíveis para venda, por criminosos, e golpes que envolvem cadastros e a obtenção de informações pessoais. Casos que conversam de perto, também, com um aumento significativo no número de boletins de ocorrência relacionados aos crimes de estelionato; de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, um em cada seis registros são desse tipo, com mais de 51,5 mil golpes relatados desde o início deste ano.

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A facilidade de solicitar o processo, a partir dos próprios aplicativos bancários, facilita o golpe. Em relatos publicados pelo jornal O Globo, vítimas falam do sumiço do dinheiro sem nenhum tipo de contato dos bancos originais, onde recebiam os valores normalmente, ou das instituições em que as contas fraudadas foram criadas; nos casos, bastou que o bandido fizesse a solicitação em nome da vítima para que a transferência fosse aprovada, sem mais perguntas.

Como as contas e pedidos são feitos sem consulta ao cliente, vítimas só percebem o problema quando é tarde demais e não recebem o salário; felizmente, nos casos citados por reportagem, valores foram recuperados dias depois Foto: Prostock-studio/envato

Servidores públicos seriam os alvos preferenciais, pela facilidade de encontrar as informações na internet. Entretanto, a reportagem também traz casos de engenheiros e aposentados, com apenas um caso em que um contato para confirmação da portabilidade foi realizado, não pelos bancos, mas pela empresa onde a possível vítima trabalhava. Ao averiguar, ela descobriu que duas contas foram abertas em seu nome pelos criminosos.

A situação é semelhante à das fraudes envolvendo o Pix, com a ideia de que a simplicidade das transferências, conforme normas do Banco Central, também vem sendo abusada por golpistas. Antes de 2018, o pedido de portabilidade de salários era feito diretamente ao banco em que a empresa depositava o pagamento; agora, é possível fazer isso nos apps de qualquer instituição, como forma de facilitar o processo e não mais obrigar o trabalhador a usar serviços de uma empresa financeira da qual não deseja ser cliente.

Como se proteger contra o golpe da portabilidade de salário

O Banco Central quer tomar medidas para que os bancos se responsabilizem sobre contas criadas e a ação de golpistas em seus sistemas. Uma ideia, ainda em estudo, é responsabilizar as instituições financeiras sobre perfis falsos ou criados por laranjas para o recebimento de dinheiro fraudulento; a ideia, inicialmente, se refere aos golpes com Pix, mas pode muito bem ser aplicada, também, aos casos em que a portabilidade é solicitada sem autorização.

Até que as medidas sejam aplicadas e enquanto os bancos não intensificarem os processos de validação de contas aberturas e solicitações, entretanto, há pouco que o cliente possa fazer. Como dito, todo o processo é feito à revelia, sem que a vítima saiba de nada até ser tarde demais, o que torna uma identificação prévia do crime muito mais difícil.

Entretanto, vale a pena consultar o site Registrato, do próprio Banco Central, de forma periódica. Lá, estão concentrados todos os registros financeiros em nome dos brasileiros, sendo possível verificar chaves Pix, contas bancárias, empréstimos, financiamentos, dívidas e outras entradas; os cidadãos devem entrar em contato com as instituições caso detectem qualquer elemento não solicitado.

Por fim, medidas usuais de proteção também são importantes. Os usuários não devem preencher cadastros em links recebidos por e-mail ou mensagem de texto, a não ser que tenham certeza da veracidade das páginas e da confiabilidade dos serviços. Da mesma forma, informações pessoais não devem ser passadas por telefone ou outros meios sem essa garantia.

A boa notícia, pelo menos nos casos citados pela reportagem, é que o dinheiro pôde ser reavido dias depois da fraude. Por isso, caso note ter sido vítima do golpe da portabilidade de salário, é importante entrar em contato imediatamente com o banco próprio e também com a instituição que recebeu os valores, além de registrar boletim de ocorrência sobre o caso.



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