Projetos garantem altos índices de aprendizagem no ensino público do DF

Capital federal mostra como o investimento na educação básica e em projetos de retorno à escola refletem na liderança nacional de alfabetização



Por Jak Spies

A importância do ensino e da aprendizagem se estabeleceu oficialmente no calendário do país em 14 de novembro de 1966, quando foi instituído, por meio de decreto, o Dia Nacional da Alfabetização. Nesta terça-feira, que marca os 57 anos da data, o Distrito Federal comemora conquistas na área. A mais importante delas é apontada pela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em junho, que coloca o DF como a unidade da Federação com o menor percentual de pessoas analfabetas de 15 anos ou mais.

‌‌Em 2022, o DF tinha 47 mil pessoas dessa faixa etária iletradas, o que equivale a uma taxa de 1,9% de analfabetos – número bem abaixo do registrado no Brasil, de 5,6%, e de estados em que esse percentual está próximo a 15%.

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Para chegar a essa marca, o Governo do Distrito Federal (GDF) investe em uma série de políticas públicas na educação básica e na Educação de Jovens e Adultos (EJA) para atender os cerca de 90 mil alunos matriculados nos três anos iniciais do ensino fundamental das 376 escolas públicas e aproximadamente 4 mil estudantes nas 95 unidades escolares da EJA que passam pelo processo de alfabetização.

Cada criança, um ritmo de aprendizado

No caso das crianças, a rede pública de ensino utiliza as diretrizes do Bloco Inicial de Alfabetização (BIA), instituído em 2014. A política organiza o ato de ler, escrever e interpretar nos três primeiros anos do ensino fundamental, tendo o primeiro ano dedicado às questões relacionadas à alfabetização, o segundo ano com o aprofundamento do que foi aprendido e terceiro ano destinado à consolidação da habilidade.

Apesar de ter sido fundamental para o avanço da alfabetização no ensino público do DF, o BIA passa por um processo de atualização. Neste ano, a rede iniciou os trabalhos para instituir um novo programa a partir da adesão do DF ao Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, iniciativa do governo federal que conta com investimento de R$ 3 bilhões nos próximos quatro anos para garantir a alfabetização dos estudantes nos anos iniciais do ensino fundamental e a recomposição das aprendizagens daqueles prejudicados na pandemia.

O Alfaletrando é um programa de consolidação da alfabetização até o segundo ano do fundamental que está em fase de planejamento e implementação na Secretaria de Educação do DF (SEE) em termos de gestão e governança. A meta é introduzir esse programa em todas as escolas públicas do DF a partir de 2024, para complementar o BIA.

De acordo com a diretora de Ensino Fundamental da SEE, Ana Carolina Tavares, a alfabetização é um processo em que cada criança aprende em um ritmo.

O Alfaletrando é um programa de consolidação da alfabetização até o segundo ano do fundamental que está em fase de planejamento e implementação na SEE

“Não existe um método específico de alfabetização, porque cada aluno aprende de um jeito. Nosso currículo prevê essas diferenças. Quando a gente pensa nas crianças, em uma política pública consolidada, o BIA abre espaço para isso. A gente considera importante a realização dessas práticas diferenciadas na perspectiva de trazer momentos diferentes para prática pedagógica, fugindo da dinâmica de quadro e valorizando nossos profissionais, especialmente após o período pandêmico”, explica Ana.

Reagrupando, contando e encantando

Entre os projetos no âmbito do BIA está o Reagrupando, contando e encantando, implantado na Escola Classe 5 de Brazlândia para os alunos da educação infantil ao quinto ano. Lá se trabalha com o método de reagrupamento, em que as crianças são divididas por níveis de acordo com a escrita.

Em 2022, o DF tinha 47 mil pessoas dessa faixa etária iletradas, o que equivale a uma taxa de 1,9% de analfabetos – número bem abaixo do registrado no Brasil, de 5,6%, e de estados em que esse percentual está próximo a 15%.

Cada grupo tem um incentivo diferente para permitir que as crianças aprendam a ler. Cada professor trabalha com atividades lúdicas para que aquele grupo avance de nível. O objetivo é alfabetizar os menores e consolidar a alfabetização dos maiores.

São 474 alunos entre 6 e 10 anos. O reagrupamento é uma estratégia pedagógica que consta nas Diretrizes Pedagógicas para Organização Escolar. O programa engloba do nível pré-silábico ao alfabético, mas atende especificamente o foco da alfabetização, do primeiro ao quinto ano.

O Governo do Distrito Federal (GDF) atua por meio do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf), que faz o auxílio na compra dos materiais. O projeto já tem dois anos, divididos entre a maturação, organização e os estudos, feitos para os professores que chegam na rotatividade, trabalhando primeiro o professor para depois trabalhar o aluno.

“É de suma importância a alfabetização para as crianças estarem ocorrendo de forma efetiva dentro do âmbito escolar; então o Dia Nacional da Alfabetização, para a gente, é um dia incrível. É onde a gente vai verificar realmente se o nosso trabalho feito com amor e dedicação consegue atingir o objetivo que é alfabetizar a todos de forma concreta”, ressalta a  diretora da Escola Classe 5 de Brazlândia, Poliane Pereira dos Santos de Sousa.

O aluno José Roberto da Silva Paulino, de 11 anos, participa do programa desde o início do quinto ano. Ele afirma que já consegue reescrever uma história inteira e que a atividade de que mais gosta ocorre quando jogam ou recontam uma história.

“Eu acho que é muito mais fácil, porque saí do quarto ano e a gente ainda não tinha essa capacidade de escrever, fazer texto, essas coisas. Agora já estamos bem melhor escrevendo. A gente estuda muito, faz tarefas, brinca, tem jogos, muitas atividades. Eu acho muito importante, porque, se eu crescer e eu não souber ler e nem escrever, não vou conseguir ter um emprego bom e não vou conseguir dar sustento à minha família, que um dia eu quero ter”, conta José.

Já o sonho de Anna Elisa de Moura Antunes, 10, é ser professora. “Eu gosto muito de aprender, ajudo também o pessoal, temos texto e dever escrito. A gente reconta as histórias, dá para o professor e ele fala se está bom ou não. Gostei de recontar a história do grande morango e a do saci. Os meus amigos também gostam”, acrescenta a pequena.

Resultados positivos

A secretária escolar Aparecida Evangelista de Oliveira é mãe de Aline, uma das alunas do terceiro ano do ensino fundamental que participa do programa Reagrupando. Segundo ela, como as crianças que têm muita dificuldade são separadas por nível, o fato de estarem em um patamar compatível contribui para que obtenham um rendimento melhor.

“A Aline veio da pandemia já com muita dificuldade, chegou ao terceiro ano muito fraca. O trabalho de reagrupamento ajudou bastante, ela melhorou a escrita e a leitura. Foi tudo feito de forma muito lúdica na escola, além de colocar os alunos que têm mais dificuldades com outro professor que esteja no nível em que ela está. Acredito que tem dado um bom resultado, o governo tem desempenhado o trabalho dele”, declara a mãe.

De acordo com a pedagoga Joelma das Graças Santana, que atua no ensino fundamental em Brazlândia, o objetivo, com esse projeto, é avançar as crianças na aprendizagem e melhorar o desempenho, leitura, escrita e o letramento, respeitando o ritmo de cada aluno.

“Esse projeto é uma maneira divertida de trabalhar alfabetização. Nós também trabalhamos com a comunidade, em reconhecer, valorizar as profissões, o lugar em que moram, aquilo que a gente cultiva, então é um projeto que vai além dos muros da escola. A gente trabalha com a questão do cidadão. Temos colhido muitos frutos, com toda a comunidade escolar envolvida. Desde a portaria até a cantina, todo mundo participa, todo mundo sabe quando é dia de reagrupamento”, ressalta.



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FONTEAgência Brasília
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