Série de reportagens do Brasília Pop mostra detalhes das investigações contra o evento O Maior São João do Cerrado
Por Elijonas Maia
Há oito anos, Ceilândia recebe um dos eventos mais importantes do calendário cultural do Distrito Federal, O Maior São João do Cerrado. Grandes nomes da música brasileira se apresentam no palco para milhares de pessoas durante três dias. O espetáculo recebe dinheiro público e privado para se manter de pé. E não é pouco dinheiro; são milhões de reais a cada edição. No entanto, este ano a festa está ameaçada por causa de grandes investigações de indícios de desvios de verba, lavagem de dinheiro, superfaturamento e falta de pagamento de funcionários.
A Promotoria de Justiça Regional de Defesa do Patrimônio Público do Ministério Público do Distrito Federal abriu inquérito civil para apurar eventuais ilegalidades na contratação e realização do Maior São João do Cerrado, no Ceilambódromo, entre 10 e 14 de agosto do ano passado, quando se comemorou os 40 anos da cidade. O inquérito foi enviado à Administração de Ceilândia, onde o MPDFT pdiu que fossem apresentados os processos originais em relação à contratação e realização da festa. O documento foi assinado pela promotora Juliana Ferraz da Rocha Santilli em 23 de setembro de 2014. Em 17 de outubro, no entanto, a Administração da cidade respondeu que não realizou nenhuma contratação referente ao evento. Mas o MPDFT não aceitou e continua a investigação.
De acordo com os organizadores da festa, no ano passado a empresa Edilane Produções recebeu cerca de R$ 5,5 milhões para o espetáculo. A verba veio de meios públicos e privados (patrocínio). Os custos seriam para os funcionários, cachês e outras despesas. Mas os indícios são de que parte do dinheiro sumiu. Ninguém sabe, ninguém viu.A reportagem teve acesso aos documentos que justificariam a liberação das verbas para a realização do evento em 2014. Eles mostram planilhas assinadas por três empresas que teriam participado da concorrência pública. No entanto, representantes destas empresas negam a autoria das assinaturas no contrato, e responderam que quem organizou a festa foi a ECO Organização de Eventos e Consultoria, que está no nome do marido da presidente do IBI. A contratação da empresa foi publicada no Diário Oficial do DF.
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Planilhas extensas mostram gastos estimados para os mais de 2 mil funcionários que realizaram o evento, que reuniu cerca de 750 mil pessoas em cinco dias. Só que alguns dos gastos de R$ 5,5 milhões não batem com os números apresentados pelos prestadores de serviços contratados. A empresária Miriam Fonseca afirma que deveria ter recebido R$ 80 mil pelo serviço de comida e bebida aos convidados, mas o gasto estimado nos documentos era de R$ 131 mil. A outra parte, cerca de R$ 51 mil, não foi declarada.”
Não recebemos nada, nem do casamento coletivo e nem dos camarotes. A gente teve que fazer empréstimo no banco, estamos pagando até hoje e já estamos no prejuízo. Quando procurei a Edilane Oliveira (organizadora), ela disse que dependia do GDF para fazer o pagamento do bufê. Só que descobri, por meio de documentos, que o bufê deveria ser pago por meio de patrocinadores.
A produtora de eventos Érika Struck, organizadora-geral da festa em 2014, também reclama da falta de pagamentos por serviços prestados. “Ela tira de todo mundo. Todos os que trabalharam, ela tentava fechar o menor valor possível com todos que trabalharam e forçava a gente assim: a gente trabalhava horas e horas para o evento acontecer. Só que por trás tem toda essa corrupção, né? Tirar dinheiro de quem trabalhava para o evento acontecer. Mas só que é um evento que gera um custo de quase R$ 5 milhões sendo que poderia ser R$ 2 milhões e acontecer direito todo ano”, critica.
Amanhã, na segunda reportagem da série “As falcatruas do Cerrado”, você vai ver que, além do MPDFT, O Maior São João do Cerrado é investigado pelo MPF, TCDF e TCU.
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