Por Dr. Gutemberg
Em 2014, foram atendidas 650 ocorrências nas imediações do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha e do Fifa Fan Fest (que ocorreu no Taguapark) no período da Copa do Mundo de Futebol. Desses atendimentos, apenas 37, mais graves, teriam sido removidas para os hospitais de Taguatinga, de Ceilândia, de Base, para a UPA de Ceilândia e para um hospital privado conveniado à Fifa.
Seis anos depois, chegamos ao Carnaval com a expectativa de 2 milhões de pessoas, entre elas 25 mil turistas, participando da folia de Momo em blocos e eventos que reúnem multidões maiores do que a lotação do Mané Garrincha. Sabemos do investimento do governo e dos patrocínios, da perspectiva de atração de turistas e de faturamento do comércio. Temos informação de 2,5 mil policiais militares em serviço no período e 564 bombeiros militares.
Mas quando se procura notícia sobre a estrutura de saúde para esse grande evento não se encontra muito além da informação de que o 193 deve ser acionado em caso de emergência. O Carnaval acontece ao ar livre, com muita alegria e boa vontade dos organizadores dos blocos e eventos, que até atendimento de brigadistas precisam oferecer. Mas sem a estrutura e organização para atendimento em saúde de 2014.
E sabemos que teremos gente precisando de assistência por má-alimentação ou por intoxicação alimentar, por ingestão abusiva de álcool e outras substâncias tóxicas, acidentes e episódios de violência física e abuso sexual – duas situações que, infelizmente, se tornam mais frequentes a cada ano.
Um exemplo em que as autoridades poderiam se espelhar é o que se faz no Sambódromo do Rio de Janeiro: há 20 carnavais funcionam ali oito postos de atendimento médico durante os desfiles das escolas de samba, plenamente abastecidos de medicamentos, insumos e equipamentos para socorro nos casos mais simples e estabilização de casos graves. Ambulâncias ficam paradas ao lado desses postos para as remoções necessárias.
O Carnaval é uma tradição que tem peso cultural, social e econômico. Está no DNA da cultura brasileira. E a alegria faz bem para a saúde. Abusos à parte, a festa tem que continuar. Mas, com o crescimento do Carnaval brasiliense, passou da hora de considerar a adoção de medidas e estruturas especiais para dar atendimento à população que segue os bloquinhos ou vai aos eventos fechados.
Gutemberg Fialho é médico e advogado
presidente da Federação Nacional dos Médicos
e do Sindicato dos Médicos do DF