Queremos a presidente da República sangrando até morrer?



Por Antônio Carlos Costa

Milhões de brasileiros revelam não querer ser governados pela presidente Dilma Rousseff, expressando claro desejo de vê-la renunciando ou sendo deposta do cargo mediante processo de impeachment. Não há sinal de que ela abandonará o cargo. Não há base legal, até este momento, para que seja impedida de ocupar o mais alto posto da República.

Qualquer tentativa de arrancá-la da presidência sem a necessária fundamentação constitucional é menosprezar o valor inegociável da democracia, que não está aí da mesma forma que está o morro do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. A mais excelsa forma de governo concebida pelo homem é fruto de suor, lágrimas e sangue. Quem passou por regimes ditatoriais sabe o que é ter um Médici à frente da presidência do país e não poder fazer manifestação pública e muito menos pensar em mencionar a palavra impeachment. Democracia é tesouro a ser protegido pelos amantes da liberdade, que veem o governo sem o consentimento dos governados como desrespeito à santidade da vida humana.

Não sabemos ainda se as investigações sobre o escândalo da Petrobras atingirão a presidente Dilma a ponto de torná-la impossibilitada legalmente de continuar à frente do governo. O que sabemos é que 54 milhões de brasileiros votaram nela, e milhões dos que não votaram não querem que ela saia sem que haja respeito às regras do pacto social.

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Sendo assim, a presidente Dilma Rousseff, eleita democraticamente, é a nossa legítima representante. Não vejo como torcer para que seu mandato sangre até morrer. Por que não?

Porque milhões de brasileiros dependem do êxito da sua presidente para viverem com dignidade. Quatro anos de fracasso representarão a continuidade de graves desgraças sociais, que nos assolam e envergonham perante os demais povos:

1. A estatística obscena de homicídio, que no governo Lula/Dilma passou dos 600 mil casos de vidas interrompidas pelo crime, não sofrerá alteração. A Síria é aqui.

2. As prisões continuarão a funcionar como campos de concentração, nas quais jazem quase 600 mil brasileiros, que vivem sem a mínima possibilidade de reintegração social.

3. As escolas públicas permanecerão incapazes de encantar jovens pobres que se encontram em estado de dramática vulnerabilidade social.

4. Doentes, que convivem com dores alucinantes, terão que aguardar em filas intermináveis pelo atendimento médico em hospitais mal equipados.

5. O pobre continuará, na porta de sua casa, a ter seus pés banhados por água fétida e imunda, porque cerca de 50% dos nossos bairros não têm acesso a rede de esgoto.

O que esperar da presidente democraticamente eleita num contexto de tanta pobreza e violação dos direitos humanos? Há muito o que ser falado. Cada brasileiro tem sua lista de preocupações e motivos de revolta. Permita-me mencionar, na forma de um apelo cidadão à presidente Dilma, o que deveria ser mais falado, uma vez que criaria base para diálogo objetivo entre a presidente e a população brasileira.

Presidente, por amor à democracia e aos milhões de brasileiros que vivem num país com problemas sociais tão graves, fale com clareza. Nas favelas do Rio de Janeiro chamamos de “papo reto”. Revele o seu plano de governo. Mostre sua metas e prazos. Ponha isso nas redes sociais de modo que todos possam entender. E assuma o compromisso de demitir imediatamente ministros que não alcançarem essas mesmas metas nos prazos estipulados.

Queremos preservar o seu mandato, porque honramos a democracia e temos apreço pelo nosso povo. Que a senhora revele esses mesmos sentimentos, ouvindo o apelo das ruas, que clamam pelo fim da corrupção e da incompetência.

Antônio Carlos Costa é Pastor da Igreja Presbiteriana da Barra da Tijuca e presidente da ONG Rio de Paz. Possui mestrado em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, no Instituto Presbiteriano Mackenzie e é doutorando pela Faculté Libre de Théologie Réformée, França.



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