Bloqueio judicial de aplicativo abre janela para estudar comportamentos
Por Kleber Karpov
Um fenômeno único poderá ser fruto de estudos em todo o Brasil. A decisão da 1ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, que determinou o bloqueio, em uma investigação criminal sob sigilo, do aplicativo do Whatsapp, por 48 horas, a partir da 0 hora desta quarta-feira (17/Dez), deve mexer com a rotina dos ‘whatsappcólatras’. A determinação, não esclarecida do TJSP, criou uma oportunidade única, assim se espera, para se estudar esse comportamento.
No início de setembro o cofundador do aplicativo, Jan Koum, anunciou que havia alcançado 900 milhões de usuários no mundo. Em janeiro desse ano esse número era de 700 milhões. No Brasil, a estimativa é que mais de 70 milhões de usuários utilizem o Whatsapp de acordo com dados publicados em revistas especializadas, em Maio de 2014.
Onde estão os jovens
Por outro lado, em janeiro de 2014, pesquisa da consultoria iStrategy, entre janeiro 2011 e janeiro de 2014, apontou que nos Estados Unidos mais de 6,7 milhões de jovens com idades entre 13 e 24 anos abandonou a rede social, Facebook, de Mark Zuckerberg, também proprietário do Whatsapp, e migraram para outras redes sociais, o que incluía os aplicativos móveis. Embora, naquela ocasião, a iStrategy apontava um crescimento, de usuários na mesma faixa etária no Facebook, de 8,7 milhões em outubro de 2012 para 18,1 milhões em outubro de 2013. Esses usuários retornariam ao Facebook ou procurariam um aplicativo alternativo para continuar o bate-papo¿
Possibilidade técnica
Outro ponto questionável é a capacidade de as empresas de telefonia, fixa e móvel, conseguirem efetuar o bloqueio do acesso ao Whatsapp, o que se mostrou totalmente possível, isso porque a restrição de acesso ao aplicativo é efetuada pelas operadoras que receberam a determinação judicial. Nesse caso vale observar que a decisão judicial abrange somente o território nacional, logo, com a instalação de alguns aplicativos é possível simular o acesso por meio de redes internacionais.
Marco civil da internet
O bloqueio também deve se tornar alvo de estudos em relação a Lei do Marco Civil da Internet no que tange a restrição de acesso a redes sociais e mobiles em âmbito nacional, seja para restringir a prática de crimes, forçar desenvolvedores a oferecerem informações e criarem dispositivos que impeçam o uso da aplicação para disseminar, por exemplo, redes de pedofilia.
Controle social
Até mesmo para controle de informação em massa, uma vez que usuários mais atentos, não se esqueceram que o ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, pode prestar depoimento, ainda essa semana, em relação a Operação Zelotes da Polícia Federal, que investiga a compra de medidas provisórias. Vale observar que o Brasil passa por um dos momentos mais críticos da República de crise institucionalizada proveniente de práticas de corrupção e, que exemplos da Venezuela estão pertinho, logo ali na fronteira.
Finanças
O impacto financeiro por parte das operadoras de telefonia, principalmente as móveis também servem como objeto de estudos, pois o bloqueio deve forçar usuários menos informados a recorrerem a troca de mensagens por meio de SMS e da telefonia. Embora a Globo tenha apontado que, após o anúncio do bloqueio do Whatsapp, cerca de 500 mil usuários migraram para o Telegram, aplicativo, que oferece serviço similar.
(In)Fidelidade
Ainda em relação ao impacto financeiro, Zuckerberg também pode ter uma queda de valor do produto Whatsapp, uma vez que com um volume significante, a exemplo da sociedade brasileira, ao migrar para outro aplicativo, ainda que por 48 horas, podem serem fisgados, pela solução, até então desconhecida. Nesse caso figuram além do Telegram, outros aplicativos, a exemplo do Viber, ZapZap, Line, WeChat, Kakao Talk, Kik Messenger, ChatOn, BBM, GroupMe, SnapChat, que figuram entre os mais utilizados.
Matar a saudade
No entanto o melhor objeto de estudos pode estar voltado às pessoas que utilizarem o pretexto de não ter que procurar contatos ou recriarem grupos para aproveitar às 48 horas forçadas por TJSP, para praticar algo que se torna a cada dia mais raro, curtir a interação pessoal.