Por Kleber Karpov
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), comunicou à Nísia Trindade, a demissão do cargo de ministra do Ministério da Saúde (MS), a ser substituída, em 6 de março, por Alexandre Padilha (PT), atualmente a frente da Secretaria de Relações internacionais do governo, pasta que deve ser herdada por Sílvio Costa Filho (Republicanos).
A caso chama atenção em decorrência de justificativa para a saída de Nísia Trindade, que começou a circular no meio político, ao assinalarem existência de erros na gestão, em especial à relação a condução de políticas públicas voltadas à epidemia de dengue em 2024. Algo que pode equivaler a julgar a capa pelo livro, ou uma matéria pelo título, sem ler o conteúdo.
Dengue no Brasil
2024 foi o ano em que Brasil registrou os piores casos de epidemias de dengue, de acordo com dados das séries históricas de Casos Prováveis e de Casos de Óbitos do Ministério da Saúde (2000/2023), além de dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (E-SUS Sinan) da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do MS.

Ao longo daquele ano foram registrados 6,6 milhões de casos prováveis, um aumento de 298,5% em relação aos 1,66 milhões de 2023, e um total de 6,2mil óbitos, com aumento de 427,7% de mortes se comparado as 1.179 mortes do ano anterior.
Números esses que, observados isoladamente, serviram de prato cheio para se atribuir a uma suposta falha de gestão, quando os percentuais de 2023, confrontados comparados a 2022, deram aumento de apenas 16,8%, com 1,4 milhões de casos prováveis e, 12%, equivalente a 1,1 mil óbitos.
Porém, é importante ressaltar como o próprio MS, apontou ao final de 2023, a preocupação em relação às previsões da Organização Mundial de Saúde (OMS) que, ainda no final de dezembro de 2023, apontou a tendência para o ano seguinte, uma vez que o Brasil havia liderado, o número de casos de dengue no mundo, com 2,9 milhões registrados, equivalente a mais da metade dos 5 milhões registrados mundialmente, com um agravante da circulação do vírus também em países sem circulação da doença, o que ligou o sinal de alerta, em especial, em relação às Américas.
Dengue no mundo
Para além daqueles que quiseram crucificar Nísia Trindade em relação aos números da dengue, a OMS em 2023, fez questão de ressaltar fatores como o impacto das mudanças climáticas para a propagação do aedes aegypti nas regiões tropicais, em especial nas américas. Mais que isso, o diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante visita ao Brasil (7/Fev/2024), fez questão de salientar os reflexos do fenômeno El Niño de 2023 por acentuar os efeitos do aquecimento global das temperaturas e das alterações climáticas.
Preocupações essas que puderam ser aferidas ao longo de 2024, conforme apontam os dados da Plataforma de Información en Salud para las Américas (Plisa) da Organização Pan-ameriana da Saúde (OPAS). As informações deixam claro, não se tratar de caso isolado do Brasil, em relação a epidemias de dengue.
Em 2024 as Américas somaram 13,04 milhões de número de casos de casos confirmados, um aumento de 183,7% quando0 comparado aos 4,6 milhões de dengue em 2023. Em relação aos óbitos foram 8.244 mortes, com aumento de 234,2% quando comparado as 2.467 do ano anterior.

Tempestade perfeita
O fato concreto é que o Brasil, dado a localização geográfica, em região tropical, somado ao fatores ambientais, aos impactos do El Niño de 2023, com o aumento das temperaturas e das alterações climáticas e a gravidade da variante DENV-3, somou diversas condições ideais para a reprodução do Aedes Aegypti, ao que este articulista classificou de ‘tempestade perfeita’ (Veja Aqui)(4/Fev/2024), ao observar que o impacto devastador da dengue, no Brasil, naquele ano.
Nísia Trindade
No Brasil, Nísia Trindade alertou para o risco de aumentos exponenciais de casos de dengue na Região Centro-Oeste, além dos estados de Espirito Santo (ES) e Minas Gerais, ambos na Região Sudeste.
“Dados do Levantamento Rápido de Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) apontam que 1.506 de um total de 4.976 municípios, equivalente a 30,2%, estão com classificação de risco de serem afetados por infestação do aedes aegypti. E o mais grave, outros 189 municípios (3,7%) contam com risco ainda mais elevado. O restante, 3.281 municípios (65,9%) obtiveram classificação satisfatória.”, apontou a Ministra à época.
Quem acompanhou a dinâmica da evolução dos casos de dengue no país, viu o pronto feedback e as ações por parte do MS, em subsidiar aos estados, municípios e o Distrito Federal, o suporte para que pudessem atuar no combate ao virus da dengue, e aos focos de reprodução do aedes egypti, mosquito responsável pela transmissão do vírus da dengue, e ainda de chikungunya e zikavirus.
Um ótimo ‘case’ foi o Distrito Federal. Em 7 de fevereiro de 2024 a capital do país liderava o ranking de números de casos confirmados com um total de 49.012 casos notificados e 47.417 possíveis e um total de 11 óbitos. Na ocasião, o DF acumulava cerca de 20% dos casos de dengue de todo o país.
Com atuação exemplar, tanto por parte do Governo do Distrito Federal (GDF), às iniciativas da médica, Lucilene Florêncio, a frente da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), com ações coordenadas com outras áreas do governo local, quanto da parte do MS, em dar apoio logístico e técnico ao GDF em diversas frentes e ações de combate a dengue. Como resultado, a Capital do país, conseguiu realizar ações efetivas e entrou 2025, conforme anunciado pela própria Nisia Trindade, com redução de aproximadamente 98% dos casos prováveis de dengue, além de ainda não tem óbitos confirmados registrados nesse ano.
Vacina contra a dengue
Em um capítulo a parte, também deve ser ressaltado a proatividade de Nísia Trindade, afrente do MS, juntamente com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em tornar o Brasil, à época, o primeiro e único país a homologar e garantira aplicação, na população, de vacina contra a dengue, a Qdenga.
Mais que isso, o país, Nísia Trindade deixa o governo com anúncio da primeira vacina contra a dengue, de dose única e 100% produzida no Brasil.
Vacina nacional e de dose única contra a dengue!
Anunciamos, com o presidente @lulaoficial, a produção de 60 milhões de doses/ano a partir de 2026. Também avançamos nas vacinas contra gripe aviária e contra VSR e na cadeia produtiva completa da insulina.1/7#anúnciovacinas pic.twitter.com/da0THoq9jD
— Nísia Trindade Lima (@nisia_trindade) February 25, 2025
