Por Karinne Viana
O último mês do ano na saúde é marcado pela campanha Dezembro Vermelho, que tem como objetivo principal a prevenção e o diagnóstico precoce do vírus da imunodeficiência humana (HIV), bem como o tratamento da aids. Com o intuito de conscientizar os jovens sobre a importância da prevenção do HIV e sobre o estigma associado ao vírus, uma roda de conversa foi realizada nesta quarta-feira (6) no Espaço Cultural Renato Russo, na W3 Sul. O evento foi organizado pela Secretaria de Saúde (SES-DF) em parceria com a Secretaria de Educação (SEE-DF), o Ministério da Saúde (MS) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Unaids).
A gerente de Vigilância de Infecção Sexualmente Transmissível (Gevist) da SES, Beatriz Maciel Luz, destacou a importância de conscientizar esse público. “A ideia é comunicar, na linguagem deles, as estratégias de prevenção do HIV para que possam tomar precauções. Isso é de extrema importância, pois, ao analisarmos os dados epidemiológicos do DF, percebemos que a maioria das infecções pelo vírus ocorre entre os jovens”, aponta.
O evento contou com a participação de aproximadamente 80 alunos, com idades entre 16 e 18 anos, do Centro de Ensino Médio Paulo Freire, da Asa Norte. Durante o encontro, conduzido pela enfermeira epidemiologista Daniela Magalhães, profissionais de saúde e palestrantes convidados compartilharam conhecimentos, experiências e estratégias visando promover uma saúde sexual mais segura entre os estudantes.
Fabiana Borges, assistente social da Gevist, disse que a ação foi um piloto para integrar essas iniciativas ao Programa Saúde nas Escolas. “A maioria das instituições de ensino do DF aderiu a essa iniciativa conjunta entre as Secretarias de Saúde e Educação. Dessa forma, poderemos estender essa experiência a outras escolas da capital”, avalia.
Saúde e descontração
De forma leve e descontraída, o evento teve início com uma peça teatral apresentada pela equipe de Vigilância Epidemiológica de Infecções Sexualmente Transmissíveis sobre o uso de preservativo interno e externo, a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a importância do autoteste de HIV. Para a estudante Emily Letícia Lopes, 18, foi uma oportunidade de aprendizado. “É a primeira vez que participo de um evento com esse tema e é muito boa essa troca de informações entre alunos e palestrantes”.
Durante a conversa com os estudantes, a enfermeira do Ambulatório de Infectologia e do Programa de Prevenção (PrEP) do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB), Ana Tereza Santos, revelou que 30% dos pacientes atendidos na unidade, principalmente na faixa etária de 16 a 30 anos, receberam um diagnóstico recente de HIV. “Nos diálogos com os pacientes, percebo que eles têm conhecimento sobre o que é o preservativo, mas existem várias outras questões que envolvem o não uso, desde a falta de habilidade na utilização até a falta de comunicação com a sua parceria”, afirma.
O comunicólogo Lucas Raniel, por sua vez, compartilhou os desafios de viver com o vírus. “Hoje completo uma década vivendo com o HIV. Quando descobri, tinha apenas 21 anos. Na minha mente, nunca imaginei que isso aconteceria comigo, pois, na juventude, nos sentimos invulneráveis”. Desde o diagnóstico em 2013, Lucas utiliza suas redes sociais para falar sobre acolhimento, experiências e prevenção combinada para o HIV e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
“A partir dessa minha vivência, comecei a estudar sobre o HIV, porque tive que lidar com o meu trauma e com o trauma da minha família. A comunicação é uma das principais ferramentas de prevenção nos dias de hoje. Quando abordamos assuntos como PrEP, preservativos e outras medidas de proteção com os jovens, um dos aspectos mais relevantes é incentivá-los a se envolverem no autocuidado e na prevenção por meio dos testes”, completa.
Para aumentar a interação, os palestrantes conduziram uma dinâmica de perguntas e respostas com os alunos para testar seus conhecimentos sobre os temas discutidos. “Acho interessante pelo fato de não ter muitas dessas dinâmicas nas escolas, e o que mais me chamou a atenção foi descobrir que HIV e aids não são a mesma coisa”, conta o estudante Lucas Davi Morais, de 18 anos.
Prevenção necessária
O boletim epidemiológico é um alerta para o comportamento de jovens. No DF, a faixa etária de 20 a 29 anos representa em média de 32,9% dos casos de aids no DF, seguida por 28,9% entre aqueles de 30 a 39 anos. A faixa etária de 40 a 49 anos apresenta uma proporção média de 21,7%.
A rede de vigilância, prevenção e assistência ao HIV e à aids é composta pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), policlínicas e ambulatórios especializados, os quais oferecem diversas estratégias de prevenção combinada. Segundo a gerente da Gevist, é importante que cada indivíduo escolha o método que seja adequado tanto para ele quanto para sua parceria. “A estratégia de prevenção combinada traz essa mensagem: escolha, junto com a sua parceria, as medidas que se adéquam a vocês. Sabemos que o uso do preservativo ainda é a principal forma de prevenção não apenas para o HIV, mas também para outras IST, porém, existe um tabu em torno desse assunto, o que faz com que muitas pessoas optem por não utilizá-lo”, esclarece.
Além de preservativos, a SES-DF fornece gel lubrificante e vacinas contra o Papilomavírus Humano (HPV) e hepatite B, medicamentos para Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP – quando uma pessoa teve uma situação de risco nas últimas 72 horas), medicamentos para Profilaxia Pré-Exposição (PrEP – para as pessoas com risco frequente, que usam diariamente um medicamento para evitar contrair o vírus) e os medicamentos para tratamento das pessoas vivendo com HIV/aids.
A comunicóloga, assessora parlamentar e ativista pelo Movimento de Pessoas Travestis e Transexuais, Ludymilla Santiago, ressalta a importância do autocuidado. “Ao abordarmos as prevenções combinadas, devemos considerar as opções disponíveis, levando em conta nosso estilo de vida e práticas sexuais. Isso nos ajuda a identificar quais medidas são viáveis para combinar e quais precisamos adotar para nos proteger”, orienta.