Em janeiro desse ano, a beira do lixão da Estrutural, o maior da América Latina, o governador Rodrigo Rollemberg pousou para as câmeras e discursou: “Viramos essa página vergonhosa da história da nossa cidade”, disse. No entanto, a maior vergonha social bancada pelo governo socialista, é a exploração do trabalho escravo que coloca cerca de 300 famílias em situação degradante e de completa miséria
Por Toni Duarte
Nesta sexta-feira (08/06), foi dia de pagamento em um dos oito galpões de reciclagem de lixo montados pelo governo Rollemberg, após o fechamento do lixão da Estrutural ocorrido no início desse ano.
Em um deles, no da Ceilândia, onde trabalham cerca de 300 catadores de resíduos, o sentimento é de revolta sufocada diante de um PM armado, travestido de jagunço, que organiza a fila dos catadores para o recebimento das migalhas pelos 30 dias de trabalho.
As famílias estão passando fome. Nas planilhas de rateio fixadas nas paredes do galpão demonstram o que cada trabalhador tem a receber. Poucos chegam a ter direito a R$ 250,00. A maioria recebe menos de R$100,00 para trabalhar quatro horas por dia. A área do refeitório não funciona por não possuir mesas e cadeiras.
Os trabalhadores têm apenas 15 minutos para almoçar a marmita que trazem de casa e fazem isso em pé e no meio do lixo. O banheiro é uma latrina. Os catadores da Estrutural gastam do próprio bolso R$100 reais por mês com passagem de ônibus para se deslocar ao galpão de reciclagem da Ceilândia.
A partir da próxima segunda-feira (11/06), quem quiser ganhar um pouco mais terá que trabalhar o dobro: ou seja: oito horas por dia.
“O governo fechou a maior vergonha nacional, mas legalizou uma outra vergonha que se chama trabalho escravo que explora a nossa mão-de-obra, pagando uma miséria e fazendo as nossas famílias passar fome”, reclama Almerindo Rodrigues.
Ele fez um vídeo e enviou ao Radar sobre a situação degradante bancada pelo governo Rollemberg.
Almerindo começou a trabalhar no extinto lixão da Estrutural quando ainda tinha 12 anos como a maioria dos adultos catadores. Cresceu, casou, tem filhos e não sabe como sustentar a família com os 24 reais que recebeu, por exemplo, nesta sexta-feira.
Almerindo afirma que nos últimos 4 meses nenhum dos catadores ganhou mais do que 300 reais. Ninguém tem registro na carteira de trabalho e é obrigado a trabalhar quatro horas por dia para a Associação Ambiente, se quiser ter direito a ajuda de custo, pago pelo governo, no valor de R$360.
O que recebe na reciclagem do lixo somado com a ajuda de custo do governo não chega a 500 reais, o que representa menos da metade do salário mínimo. Antes um trabalhador do lixão, trabalhando por conta própria, tirava 800 reais por semana, segundo Almerindo.
O governo paga o aluguel dos galpões para oito cooperativas, entre elas a Associação Ambiente, até encontrar uma solução definitiva. Cabe ao GDF recolher o lixo nas ruas e enviar para os referidos galpões.
A ajuda de custo no valor de 360 reais é por cada tonelada de lixo reciclado. Os trabalhadores acusam a direção da Associação pela falta de transparência na negociação dos resíduos com a empresa Capital Recicláveis.
Não há equipamentos básicos como luvas, botas, máscaras, bem como os catadores não sabem ao certo quanto produziu e não há dia certo para o pagamento da produção.
Ao Radar, um grupo de catadores disse estar disposto a buscar outra alternativa como a da criar a sua própria cooperativa e negociar junto ao GDF um espaço mais perto da Estrutural onde todos possam trabalhar sem depender do transporte ou de atravessadores.
Ao ser procurada pelo Radar, a presidente da Associação Ambiente, Ana Cláudia, disse que os catadores não estão falando a verdade.
“É mentira de quem diz que chegou a ganhar um real e que não esteja havendo transparência no rateio da venda entre todos os que produzem durante o mês”, disse.
Ana Cláudia confirmou que a partir da próxima segunda-feira todos trabalharão em um único turno de oito horas para que melhore o rendimento de cada trabalhador.
“Quem trabalhar oito horas pode tirar até 400 reais por mês. Isso foi discutido e aprovado entre todos os catadores”, disse.
Por Radar-DF