Por Daphne Arvellos Dias
Aos 14 anos, Rutielli sabe listar uma série de coisas que gosta e quer, entre elas, uma família. “Se eu escolhesse uma família, eu ia escolher uma que fosse unida, calma, paciente, respeitosa, alegre, que cuidasse de mim, tivesse paciência”. A jovem é um dos adolescentes que compõem o cadastro de adoção do Distrito Federal e esperam pela oportunidade de integrar um novo círculo familiar. “Ela é uma adolescente muito carismática. Todo mundo tem um dom, o da Rutielli é o carisma”, aponta Kamila Rosa, psicóloga da instituição de acolhimento em que a menina está acolhida.
Acreditando que é possível unir sonhos de meninos e meninas, como os de Rutielli, com os daqueles que desejam um filho em adoção, a Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal (VIJ-DF) lançou o projeto Em Busca de um Lar em 2019. A iniciativa dá visibilidade a crianças e adolescentes que estão em unidades de acolhimento do DF e cujo desejo é integrar uma família, mas que não correspondem ao perfil da maioria dos pretendentes a adoção – em razão da idade, por fazerem parte de grupos de irmãos ou por terem problemas de saúde.
O número atual de famílias habilitadas para adoção no DF (570) é mais do que cinco vezes a quantidade de crianças e adolescentes cadastrados para adoção (110), o que demonstra um desencontro entre o perfil clássico desejado pela maior parte das famílias, ou seja, criança mais nova, saudável e sem irmãos, e os que compõem o cadastro.
Por meio do Em Busca de um Lar, cinco meninos e meninas fora desse perfil pretendido pela maioria encontraram novas famílias e estão em processo de adoção. Outros cinco pretendentes à adoção, a partir da iniciativa, também foram encaminhados para acolher dentro dos parâmetros trabalhados no projeto.
Do total de 110 crianças e adolescentes cadastrados para adoção na VIJ/DF, cerca de 70% tem entre 10 a 18 anos incompletos, como Rutielli. Conheça mais sobre a história dela no vídeo abaixo:
Uma vida cheia de sonhos
Nas horas vagas de estudo, Rutielli se dedica a passar tempo com os colegas da instituição de acolhimento e a alguns hobbies, entre eles, ler. Ela fala que não tem um livro favorito, mas no repertório estão histórias de romance, aventuras, entre outros gêneros. “Cada história é diferente, eu gosto, é legal. Fico muito ansiosa pra terminar”, narra ela. Além do prazer, a menina acredita que ler traz benefícios para sua vida. “Gosto de ler. Acho que me ajuda a falar e interagir com as pessoas”, completa.
Além de ler, ela também se dedica à escrita. Relatos de seu cotidiano, emoções e sonhos ganham espaço em um diário que mantém desde pequena. “Eu escrevo sobre a minha vida e várias outras coisas. Desenhava quando era menorzinha”, conta Rutielli. Ela gosta de escrever principalmente na cama onde dorme, espaço que divide com uma série de bichinhos de pelúcia e bonecas “de amizade”, que foi ganhando ao longo do tempo de pessoas importantes que passaram pela sua vida.
Na escola, ela confessa que gosta mais das matérias de ciências, história e educação física. “De ciência eu gosto porque conta o que acontece, os fenômenos naturais; de história, gosto de saber o que aconteceu antigamente; de educação física, por causa dos esportes”, justifica. Falando em atividade física, ela também faz karatê, mas conta que gosta mesmo é de dançar. “Eu penso em me formar dançarina, ser professora de dança, ou então vou procurar outros tipos de profissões. Não é só ficar naquilo que a gente sabe que é boa, tem que procurar outras coisas”, defende a menina.
O gosto pela dança fica registrado também em uma pequena bailarina que guarda no armário. “A bailarininha inspira, né? Ela é importante pra mim, como eu gosto de dançar”, diz. No mesmo armário estão suas maquiagens. Vaidosa, ela gosta de usar batom, arrumar o cabelo: “Acho muito importante cuidar da gente mesmo”. O armário, por sinal, ela busca sempre manter organizado, diz que gosta das suas coisas arrumadas. “Ela tem esse desejo de cuidar das pessoas, das coisas dela. Tem essa questão da independência que é muito boa”, explica a psicóloga Kamila Rosa. “Acho que a família que adotar a Rutielli vai ganhar muita coisa boa, assim como ela também vai ganhar. Com a nova família, ela vai ser cuidada, mas ela também vai cuidar”, finaliza Kamila.
Fonte: TJDFT