Enquanto há um médico para 158 pessoas no Plano, em Samambaia a proporção é de um para 5,5 mil. Segundo o próprio secretário de Saúde, Humberto Fonseca, o número está abaixo do ideal. Ele propõe quem próximo concurso seja regionalizado
Por Fernando Jordão
Dados da Secretaria de Saúde mostram que a quantidade de médicos da rede pública que trabalham no Plano Piloto chega a ser 30 vezes maior do que em algumas cidades satélites. Somadas, as asas Sul e Norte dispõem atualmente de 1.398 profissionais, enquanto a região de Samambaia, por exemplo, conta com apenas 46.
Considerando a população das regiões administrativas, a discrepância é ainda mais evidente. De acordo com as informações mais recentes da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a cidade de Brasília tem 221.223 habitantes, contra 254.439 de Samambaia. Assim, no Plano Piloto a média é de um médico para cada grupo de 158 habitantes. Já na satélite, essa proporção é de um médico para 5.531 pessoas.
A explicação para a diferença pode estar na quantidade de atendimentos realizados em cada uma das regiões. A Secretaria de Saúde (SES) diz não poder precisar quais os hospitais mais procurados do DF, pois cada um deles é referência em uma área. Porém, a pasta ressalta que os principais hospitais de referência estão justamente no Plano Piloto, como o Regional da Asa Norte (HRAN, referência para queimados), o Materno Infantil (HMIB, referência para pediatria) e o de Base (referência para traumas) que, aliás, é o hospital que mais tem médicos, com 814 profissionais.
Além disso, a região de Brasília tem 21 unidades de saúde, enquanto Samambaia tem apenas dez. Ainda segundo a SES, não há restrições de atendimento por região administrativa. O que significa dizer que um morador de uma cidade satélite pode se consultar no Plano Piloto e vice-versa.
Ao todo, 5.012 médicos trabalham na rede pública local. Segundo o próprio secretário de Saúde, Humberto Fonseca, o número está abaixo do ideal. Para ele, a carência de pessoal é, inclusive, o maior problema da pasta. Em recente entrevista ao Correio, Fonseca revelou que a secretaria tem hoje “um déficit de três mil servidores e a perspectiva da aposentadoria de mais 1,5 mil até o meio do ano”. Também conforme o secretário, nos últimos seis meses, as unidades de saúde pública perderam 500 médicos.
Já a Secretaria de Saúde informou que, neste momento, tem 214 cargos de médicos vagos, sendo 110 de profissionais desligados por morte ou exoneração e 104 por aposentadorias. A pasta disse também que já fez a solicitação para preencher as vagas com novas nomeações e que estuda a possibilidade de novos concursos. Não há, porém, uma previsão de quando essas contratações devem ocorrer.
Última seleção
O último concurso para médicos efetivos da Secretaria de Saúde aconteceu em 2014. Na ocasião, foram ofertadas 665 vagas e 2.760 pessoas foram aprovadas. Contudo, entre os 1.242 profissionais que foram convocados no ano passado, 311 – ou 25% do total – não quiseram assumir a vaga. O processo seletivo tem validade até dezembro deste ano, mas pode ser prorrogado por mais dois anos.
Na avaliação do secretário de Saúde, as desistências podem ser explicadas pela falta de regionalização da seleção. “O último concurso não foi regionalizado e isso gera dificuldade de lotação nos locais mais distantes, como Brazlândia e Samambaia. Temos alguns serviços com dificuldade de atrair médicos. A saída é fazer concurso regionalizado”, acredita.
Fonseca comentou ainda sobre a falta de estrutura das unidades de saúde, que seria outro motivo para os aprovados não quererem assumir os cargos de médico. “Sabemos que as condições de trabalho não são boas, faltam exames laboratoriais, alguns medicamentos”, reconhece. “Os profissionais estão assoberbados pela falta de pessoal, então atendem muito mais pacientes do que seria razoável para o período. Falta qualidade de trabalho para todos os profissionais da área”, completa.
Menos de cem
Além de Samambaia, outras quatro regiões do Distrito Federal possuem menos de cem médicos. São elas: São Sebastião (49), Recanto das Emas (51), Guará (86) e Candangolândia/Riacho Fundo/Núcleo Bandeirante (91). Confira o ranking das cidades do DF com menos médicos:
1ª: Samambaia – 46 médicos
2ª: São Sebastião – 49 médicos
3ª: Recanto das Emas – 51 médicos
4ª: Guará – 86 médicos
5ª: Candangolândia/Riacho Fundo/Núcleo Bandeirante – 91 médicos*
6ª: Brazlândia – 102 médicos
7ª: Planaltina – 167 médicos
8ª: Santa Maria – 208 médicos
9ª: Paranoá – 275 médicos
10ª: Gama – 356 médicos
11ª: Sobradinho – 361 médicos
12ª: Ceilândia – 407 médicos
13ª: Asa Norte/Varjão/Lago Norte – 545 médicos**
14ª: Taguatinga – 672 médicos***
15ª: Asa Sul – 853 médicos****
*Acrescidos 9 médicos do Instituto de Saúde Mental
**Acrescidos 46 médicos do Hospital de Apoio e 11 do Centro de Orientação Médico Psicopedagógica
***Acrescidos 27 médicos do Hospital São Vicente de Paulo
****Acrescidos 814 médicos do Hospital de Base do Distrito Federal
Fonte: Correio Braziliense