Por Thais Cieglinski
Falta tudo. Algodão, remédios, médicos, leitos, água quente, máquinas de Raio-x, gaze. O sistema público de saúde do Distrito Federal está na UTI e, acredite, as coisas conseguem piorar a cada dia. Esta semana, com salários atrasados, servidores terceirizados que fazem a limpeza e a segurança de hospitais e postos de saúde decidiram cruzar os braços. Enquanto o cenário de terra arrasada não dá sinais de melhora, o GDF garante ter encontrado a solução para o caos: repassar a gestão da saúde para as mãos de organizações sociais (OSs).
A fórmula mágica, no entanto, vem sendo alvo de uma cruzada do Ministério Público de Contas do Distrito Federal, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e do Ministério Público do Trabalho. Na última sexta-feira (8/7), os órgãos entregaram uma recomendação conjunta ao GDF para que não sejam firmados contratos de gestão com essas organizações.
Entre os argumentos que justificam a advertência está o fato de contratos com essas entidades ofenderem a lei e a Constituição Federal, por configurar hipótese de terceirização ilícita de atividade-fim. O histórico de irregularidades na gestão do Hospital Regional de Santa Maria por uma OS, assim como problemas já identificados em pelo menos três processos de qualificação de organizações sociais reforçam a tese de que a tal solução parece passar longe legalidade.
A despeito das recomendações do Ministério Público e, quem sabe, em breve, da própria Justiça, o governo parece ignorar também o sofrimento de quem procura atendimento nos hospitais regionais ou nas UPAs. São dramas como o vivido pela auxiliar administrativa Débora Mendes, 27 anos. O filho dela, o pequeno Artur, de apenas 5 meses, espera desde o nascimento por uma cirurgia para corrigir sérios problemas cardíacos. O médico que atende o bebê disse que ele precisa ser submetido ao procedimento antes de completar 6 meses. Em agonia, a mãe conta que o prazo se encerra em 15 dias.
Não menos grave é a provação pela qual passou a família de Kimio Ueda, 84 anos, internada no Hospital Regional da Asa Norte há pouco mais de 20 dias. Em pleno inverno, a senhora precisou enfrentar a falta de estrutura da unidade, como a ausência de remédios e médicos. Uma das netas de aposentada, Tatiana Ueda, relatou, emocionada, a preocupação com o estado de saúde da avó, que, em pleno inverno, teve de tomar banho frio porque não havia água quente no local.
A mãe de Artur, assim como a neta de Kimio, não podem ser esperar. Enquanto a primeira sonha em ver o filho superar as dificuldades contra as quais luta desde o primeiro minuto da curta vida, a segunda tem todo direito de exigir que a avó com mais de 80 anos seja tratada com a dignidade que todos os cidadãos merecem. Ao Governo do Distrito Federal, cabe prestar o devido atendimento, ciente de que não faz nenhum favor a elas.
Fonte: Metrópoles