Servidores do Lacen sacrificam vida familiar em prol da saúde pública

A nova rotina impõe horas a mais de trabalho e cuidados extras ao chegar em casa



Desde a descoberta do primeiro caso de coronavírus no Distrito Federal, uma unidade vem se tornando mais conhecida pelos brasilienses. O Laboratório Central de Saúde Pública ganhou notoriedade ao ser o centro das análises do vírus recém-chegado ao território. Isso mudou a rotina de todos os servidores do Lacen e as relações com seus familiares.

No rosto de Larissa da Costa Souza, que trabalha diretamente no diagnóstico do coronavírus, é visível o cansaço. A fala sobre os processos de trabalho e todo o histórico sai naturalmente, com propriedade, mas de forma mecânica, ininterrupta. Uma pausa para refletir sobre o impacto das horas a mais no trabalho e a emoção toma conta ao relembrar da família e dos filhos.

“Eu estou muito ausente. Eu fazia lanchinho, já não faço mais, porque de noite só dá tempo de tomar banho e dormir (choro). Fim de semana a gente trabalha também. São crianças de 2, 4 e 6 anos… não, confundi, o de 6 fez 7 e o de 4 fez 5, recentemente. Nessa rotina, fico atrapalhada”, relata a servidora, que antes de continuar a conversa precisou controlar as lágrimas.

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“É mais tempo de trabalho. A sorte é que meu marido não é da área da saúde e conseguiu um tempo de home Office. Então ele está ficando com as crianças em casa”, completa a profissional que também está responsável pela capacitação das equipes que estarão no novo regime de plantão do laboratório.

MAIS TEMPO NO TRABALHO – Além de Larissa, outros gestores e chefes de setor estão convivendo cada vez mais tempo com os colegas de trabalho. O diretor, Jorge Chamon, dá exemplo dessa nova rotina junto dos demais servidores. “Eu sinto que modificou muito a vida da equipe. Principalmente a questão dos horários. A gente está excedendo demais. É o que a gente tem que fazer. Não tem como ser de outra forma”.

A vida de Chamon era pacata, sem muitas alterações nesses três anos à frente do Lacen. Bastou a chegada do novo vírus para que acontecesse uma mudança radical em sua vida pessoal e profissional. Mesmo assim, ele afirma que “é prazeroso, é uma área que eu gosto, então não me dói esse tempo a mais que eu fico. A gente está muito sacrificado, mas é um esforço que se deve fazer”. Chamon tem esposa e dois filhos e tenta vê-los na meia hora que tira de almoço. À noite, nem sempre é possível ver os pequenos, que na maioria das vezes já estão dormindo.

Além de toda a dedicação no trabalho, antes de descansar, bate aquela preocupação com os familiares. Alguns cuidados precisaram ser adotados, mudando hábitos simples. Ao chegar a casa, a nova regra é tirar os sapatos; colocar a roupa imediatamente para lavar e tomar um banho caprichado antes de chegar perto dos filhos ou cônjuge, dar um abraço e depois descansar, para no dia seguinte, cedo, recomeçar.

“A gente só vê que está cansado, que está estressado, quando chega em casa, na hora que para. Quando está aqui (no laboratório), na adrenalina, parece que o cansaço não bate”, conta Fabiano José Queiroz Costa, gerente de biologia quântica do Lacen.

Ele acrescenta que nunca houve um momento como o que está sendo vivido. “A gente já passou por alguns momentos de epidemias. Passamos pelo H1N1, recentemente pelo surto de casos de dengue, mas igual a esse de coronavírus é cenário de guerra. Estamos tendo que movimentar o Lacen todo porque nas outras vezes a gente se limitava à virologia. Desta vez, a gente teve que movimentar os quatro núcleos para tentar dar conta da demanda”.

Foi esse grande volume de amostras necessitando de análise que fez com que, pela primeira vez, nos 42 anos de existência, o Lacen funcionasse 24 horas por dia.

“Nós estamos cansados, mas a gente entende que esse é o momento de se dar uma resposta rápida. Para isso, temos que trabalhar intensamente porque a situação das pessoas tem que ser identificada em curto prazo. A nossa demora impacta na liberação de leitos. Nós estamos correndo com tudo aqui”, enfatiza Larissa.

Todos estão dedicando as suas vidas a salvar outras vidas, abdicando de momentos preciosos com suas famílias. Esses profissionais nem pensam em ficar em casa, pois sua opção de vida foi a saúde pública. Estes três servidores são apenas uma amostra do trabalho de todos os envolvidos nesse momento que já entrou para a história mundial.

Josiane Canterle, da Agência Saúde

Fonte: Agência Saúde



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