Colegas fizeram abaixo assinado, com mais de 200 assinaturas além de redigirem carta protesto, para tentar manter profissional de saúde no Pronto Socorro. Enfermeiro se tornou vítima de assédio moral por reclamar das péssimas condições de assistência oferecida aos pacientes e pedir providências aos superiores
Por Kleber Karpov
Desde terça-feira (16), profissionais de saúde, do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), contataram Política Distrital (PD) para denunciar a remoção, arbitrária, por parte da gerente de enfermagem do Pronto Socorro (PS) a enfermeira, Lucivane Julia de Queiroz e, da superintendente da região Sudoeste, a médica, Lucilene Maria Florêncio de Queiróz, do enfermeiro, Diego Sampaio Gomes Natividade. Denunciantes apontam que o servidor foi transferido para outro setor, por reclamar das condições de atendimentos aos pacientes da unidade e pedir providências.
Alguns dos denunciantes, conversaram com PD, sob condição de se manter as respetivas identidade em sigilo. Três desses, que serão chamados de Servidor A, B, e C, respectivamente encaminharam documentos para demonstrarem a prática de assédio, irregularidades e arbitrariedades no processo de transferência de Diego Sampaio.
De acordom com o Servidor A, enfermeiro, lotado no PS desde 2011, passou a ser perseguido após participar de uma reunião com a gerente de enfermagem e a superintendente da Região Sudoeste, relatar as péssimas condições em que os pacientes internados no Pronto-Socorro são submetidos, pedir que à gestão ofereça melhores condições de atendimento aos pacientes e de trabalho aos colegas da enfermagem servidores e de solicitar providências por parte da gestão.
Tal denúncia também foi reforçada e sustentada pelo Servidor B. Com o mesmo teor na explicação sobre o motivo da remoção de Diego Sampaio do PS para outra área do HRT. O profissional de saúde elogiou o trabalho e atitudes do colega, o que referenciou ser de “conduta profissional ilibada”, com “ficha funcional impecável” além de reforçar a perseguição do enfermeiro, por pedir melhorias no PS.
“Um enfermeiro do Pronto socorro levantou a voz pra clamar socorro para Superintendência e direção do hospital. Falando sobre as condições que estavam passando. Que os pacientes estavam morrendo por falta de assistencia adequada e por falta de recursos humanos e materiais. Falou tudo isso em reunião com a gerência de enfermagem e superintendência. E o que ele ganhou..??? Agora chegou um ofício assinado pela gerência de enfermagem e superintendência solicitando a remoção dele do PS para o centro cirúrgico, contra a vontade dele. E deram prazo ate o dia 20/01 pra isso… (SIC)”, disse inconformado.
Trapaça?
PD teve acesso por meio de Servidor C, que afirma colega de trabalho e amiga de Diego Sampaio, que também encaminhou documentos que demonstram o que chamou de “reconhecimento do trabalho de Diego”.
Servidor C explicou ainda que, a remoção de Diego Sampaio foi efetuada de forma arbitrária, sem o consentimento do enfermeiro e tampouco a anuência da chefia imediata do servidor.
“O que está acontecendo com ele é assédio moral da gerente e da supervisora. Ele tentou nos defender e também os pacientes porque relatou na reunião com elas [gestoras] as condições do Pronto Socorro, solitando providências da Gerente e superintendente. Depois disso ele me falou que ofereceram outras unidades para ele ir, ou se queria sair de férias ou até até ceder parte da carga horária mas como ele [Diego Sampaio] negou as propostas fizeram removeram ele mesmo contra vontade, sem ninguém saber, com alegações totalmente infundadas e sem autorização da nossa chefia imediata. Ele ama o PS e foi transferido para o CC [Centro Cirúrgico] que tem um monte de gente que quer ir pra lá e não consegue. Porque justamente ele? O mais descabido disso tudo é q no documento, eu vou te mandar, eles alegam q a remoção é pq o pronto Socorro é altamente insalubre p ele. Pode isso? E que visam prevenir futuros riscos a saúde dele, como se eles se preocupassem com a nossa saúde, não andam cuidando nem a dos pacientes pois deixa morrer sem atendimento adequado. (SIC)”, disse.
Entre os documentos encaminhados por Servidor C, estão: certificado de reconhecimento e condecoração recebidos por Diogo Sampaio, além de documento com recortes que ilustram a suposta perseguição ao enfermeiro.
Em outro trecho do recorte, o próprio Diego Sampaio questiona o processo de remoção do servidor, em que constesta a gestão, a condução arbitrária e unilateral da transferência de setor.
Abaixo assinado e protesto
Os servidores denunciantes informaram que foi apresentado à gestão, um abaixo-assinado com aproximadamente 200 assinaturas de colegas de trabalho de Diego Sampaio, para tentar impedir a remoção do enfermeiro. Documento esse endossado por médicos, enfermeiros e técnicos de diversas categorias.
Porém, ao serrem ignorados pelas gestoras, os colegas de Diego Sampaio, decidiram realizar um protesto, que deve ocorrer, na manhã desta sexta-feira (19/Jan), às 10h, no HRT. Na ocasião os servidores devem entregar uma Nota de Repúdio as gestoras, ainda na esperança de contar com a sensibilidade por parte das gestoras.
“O PS fez abaixo assinado com toda equipe do Pronto Socorro, são mais de 170 assinaturas para pedir a permanência do colega. Toda equipe da enfermagem e equipes médicas de cirurgia geral, Cardiologia, ortopedia, pediatria, clínica médica e hematologia , equipes do Samu… equipes do Laboratório, Radiologia e Banco de sangue e todos participamos e fomos simplesmente ignorados. E agora foi feito uma carta de repudio que sera apresentada amanha durante protesto no PS as 10hs da manhã contra a saida do enfermeiro que estava apenas tentando ajudar a rede do ses. (SIC)”. disse o Servidor B.
Problemas apontados por Diego Sampaio, na reunião com a gestão que motivaram a perseguição
Ainda por parte de Servidor C, PD recebeu um texto contendo uma descrição da suposta reclamação e reivindicação por parte de Diego Sampaio, às gestoras do HRC.
“Direcionar déficits de equipamentos/insumos e recurso humano da unidade/PS, houve apontamento da situação real em que se encontra a emergência, como por exemplo, superlotação de pacientes em ala amarela (destinada a pacientes estáveis sob antibioticoterapia e/ou aguardando efetivação de exames/intervenção cirúrgica), ala vermelha (15 leitos de semi-intensiva destinados a pacientes instáveis ou potencialmente instáveis que aguardam melhora clinica para efetivação de transferência para ala amarela ou liberação de leito em unidades terapia intensiva), sala de admissão vulgo BOX de emergência (ala destinada a pacientes críticos que apresentam classificação laranja e vermelha conforme Sistema Manchester de Classificação de Risco); elencado por servidor junto a gerencia que a superlotação da sala de admissão/BOX de emergência acarreta comprometimento na assistência e que deveria haver instituição de restrição admissional após determinado quantitativo, pois respectiva ala consta apenas com 2 pontos de oxigênio que com adaptação segura podem chegar a 4 pontos sem sobrecarga em distribuição, 2 monitores cardíacos multiparamétricos, 1 monitor cardioversor/desfibrilador, releva-se que constantemente a sala de admissão/BOX apresenta mais de 14 pacientes chegando algumas vezes a mais de 20, estes muitas vezes são acomodados em macas SAMU/CBM/transporte hospitalar devido a carência de leitos ou mesmos em cadeiras.”.
O que diz a outra parte
Por meio de nota a Secretaria de Estado de Saúde do DF recorreu à prerrogativa da gerência de enfermagem a detecção de carência de profissionais e fazer tais movimentações. A Pasta também, ‘lembrou’ que o servidor está sujeito a ocupar cargo de acordo com as ‘conveniências’ da gestão.
“A lotação dos enfermeiros é um ato material de gestão da gerência de enfermagem e cabe a ela verificar onde necessita da atuação do profissional. No referido caso, foi constatada necessidade da atuação do profissional no Centro Cirúrgico. Diante disso, a gerência de enfermagem solicitou o remanejamento interno, sem qualquer prejuízo da força de trabalho do PS, nem financo(sic), já que houve reposição das horas de trabalho. Vale esclarecer que, ao fazer o concurso público, o candidato está sujeito a ocupar seu cargo em qualquer unidade da rede pública de saúde. Ao tomar posse, o servidor é lotado em local a ser definido pela Subsecretaria de Gestão de Pessoas, conforme às necessidades da rede. A qualquer momento, poderá haver mudança no local de trabalho, dentro de sua unidade, do servidor, sempre atendendo às necessidades da chefia imediata.”.
No entanto
Chama atenção um dos recortes, encaminhados por Servidor C ao PD induz a conclusão de haver de fato um ato de perseguição por parte da gestão ao enfermeiro Daniel Sampaio, ou que a gerência de enfermagem, goste de ‘descobrir um santo para cobrir outro’.
Afinal um dos recortes encaminhados chama atenção ao demonstrar que a transferência de Daniel Sampaio, provocaria um inegável prejuízo ao público usuário do PS, uma vez que desfalcaria a equipe de enfermagem ali lotada, fato patente conforme registro de contrariedade, da chefia imediata, em relação a remoção do enfermeiro para outro setor.
Opinião:
O Caso de perseguição no HRT, denunciado ao PD, ilustra algo corriqueiro no âmbito da SES-DF. E práticas de assédio moral e perseguições, parecem estar arraigadas, na SES-DF, sobretudo na gestão do atual ocupante do Palácio do Buriti, Rodrigo Rollemberg (PSB) desde a posse em 2015, até a presente data, com excessão à curta gestão do ex-secretário Fábio Gondim. Isso com destaque para atual gestão, com o agravante de que alguns servidores culpam o próprio gestor responsável da pasta por perseguições dos mais diversos meios, inclusive com retenções de salários, por alguns meses.
No que tange às unidades hospitalares, ao considerar que o DF conta com 13 hospitais, estranhamente, o HRT e o Hospital Regional de Ceilândia (HRC) estão entre os recordistas, em denúncias junto ao PD, por práticas de assédio moral em relação aos servidores. Muitas dessas denúncias que sequer chegam a ser apuradas com a rede e tampouco publicadas, por se tornarem ‘corriqueiras’.
Porém, em respeito a fidelidade aos fatos e a veiculação de dados reais e incontestes, PD está promovendo de forma acautelatória, a devida apuração de graves denúncias envolvendo suposta venda de agendas de consultas, exames e acessos cirurgias no âmbito da Rede de Saúde Pública do DF, inclusive no HRT. Algo digno de investigação por parte da Polícia Federal, uma vez que a Saúde do DF é financiada por recursos públicos provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS), portanto vinculado à União Federal, que obrigatoriamente, deveria ser gratuita e universal.