Discórdia, de mão única, está relacionado ao velho dilema: ‘quem é o pai da criança’, por causa de pedido de abono dos dias parados durante a greve dos servidores da Saúde trabalhadores entre 5 de outubro e 12 de novembro de 2015. Falta de bom senso?
Por Kleber Karpov
O que deveria ser um episódio de união no meio sindical, em busca das conquistas dos servidores da Saúde do DF, por forças alheias à compreensão humana, ou talvez nem tanto, causou ruídos e pode colocar em xeque uma negociação que envolve mais de uma centena de categorias de profissionais da saúde. O motivo? A reivindicação da paternidade de quem reivindicou o abono dos dias faltados durante as greves dos servidores em 2015.
Embora não que seja novidade esse tipo de disputa no meio sindical, em se tratando da saúde. Isso porque há cerca de 10 anos os trabalhadores eram representados por três ou quatro instituições sindicais e atualmente quase uma dezena dividem esse bolo. Nesse cenário, eventualmente, algumas iniciativas, às vezes são comuns a todos, acabam por criar uma ‘disputa’, de quem teve a ideia, tomou a iniciativa ou conseguiu primeiro o benefício aos seus representados.
Sob esse prisma, Política Distrital acompanhou comentários de servidores da Saúde, em redes sociais, em relação à insatisfação da direção do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília-DF (SindSaúde-DF), após uma reunião da Mesa de Negociação Permanente do SUS/DF, ocorrida na quinta-feira (28/Jan).
Entenda o caso
Na ocasião a subsecretária de Gestão de Pessoas (Sugetes) da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), Flavia Cáritas Mendonça Gondim do Nascimento, propôs a efetuar o pagamento dos dias parados, antes das greves, das diversas categorias de profissionais de saúde, serem declaradas ilegais. Porém, por não contemplar as reivindicações dos sindicatos presentes, as entidades apresentaram uma contraproposta à Secretaria.
Com isso a direção do SindSaúde-DF, ficou, supostamente, chateada com o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (Sindate-DF) ´por ‘vazar’ o documento à imprensa – a contraproposta –, contendo apenas, as ‘adesões’ do Sindate-DF além dos sindicatos: dos Técnicos, Tecnólogos e Auxiliares em Radiologia do DF (Sinttar-DF), dos Médicos do DF (SindMédico-DF) e dos Farmacêuticos do DF (Sindfar), quando na prática, oito entidades estiveram presentes na reunião.
Em comentários dos servidores em redes sociais e grupos do aplicativo Whtasapp, e em matérias publicadas por blogs, dão a entender que o SindSaúde, reivindica a liderança do movimento que pede o abondo dos dias faltados. Tal informação pode ser vista, por exemplo, em publicação no site da Entidade e nas redes sociais, em que o Sindicato afirma “encabeçar o movimento pelo abono dos dias de greve”.
Tempestade em copo d’água
Política Distrital conversou com o vice-presidente do Sindate-DF, Jorge Vianna, que minimizou o suposto ataque. O Sindicalista explicou que a reunião foi demorada e que somente ao fim os sindicatos começaram a assinar o documento e se retirar da sala. “Estão fazendo tempestade em copo d’água. Eu assinei, em seguida o Jorge [do Sindfar], tiramos a foto e saímos.“, afirmou ao observar que em relação ao vídeo gravado por Vianna, publicado pelo Blog: “Se você observou, no vídeo, por exemplo, em nenhum momento falo que é um movimento do Sindate. Mencionei que todos os Sindicatos apoiaram e assinaram a contraproposta e que todos estão em apoio ao abono ao ponto dos médicos. Mas como ficamos na greve até o final, nessa história de paternidade, considero o SindMédicos um grande irmão.”, concluiu.
O pai da criança
Para justificar a chateação o SindSaúde chegou a disponibilizar um Ofício encaminhado à SES-DF em que pede o abono do ponto do servidor da Saúde (28/Jan). Porém, em se tratando de paternidade, o SindMédico, última entidade sindical a decretar o fim da greve (12/Nov/2015), sequer precisa fazer exame de DNA.
Isso porque Política Distrital conversou com o presidente do SindMédico, Guttemberg Fialho, que falou da importância da união das entidades sindicais e agradeceu o apoio recebido: “Esse é um momento que temos que permanecer unidos. É claro que aceitamos e queremos a solidariedade dos outros sindicatos.”, disse.
Questionado sobre a solicitação do abono das faltas, Fialho explicou: “A solicitação foi pelo SindMédico em reunião com o Igor Torkaski [ secretário-adjunto de Relações Institucionais e Sociais ] e a Mari[ Elisabeth Trindade Machado, Subsecretária de Relações do Trabalho e do Terceiro Setor] e depois levada ao Conselho de Saúde, pelo nosso representante no Conselho, Thiago Neiva.”, afirmou Fialho.
Bom senso
Com o esclarecimento de quem é o ‘pai da criança’, uma vez que se considerado a precedência dos pedidos efetuados pelo SindMédico-DF, à SES-DF e ao GDF, nos dias 16 e 25 de novembro de 2015, cabe a essa entidade a paternidade. Talvez seja coerente prevalecer o desabafo de um servidora da Saúde, que pediu para não ser identificada pelo Blog.
“Nós servidores estamos em um momento extremamente delicado. Em 2015 nós só perdemos, principalmente com a greve, mas saímos com a promessa de conseguir alguma melhoria. Acho que esses sindicatos deveriam se preocupar menos em quem fez o quê e passar a defender, de verdade, os nossos interesses de servidor. Se esses sindicatos, se nós servidores nos unirmos, aí sim seremos fortes. Senão, vamos continuar a sermos explorados pelo patrão.”.