“A aliança que elegeu Rodrigo Rollemberg pode ser tudo menos uma aliança de esquerda” (Toninho do PSol)
Por Professor Chico
Natural do município de Barão do Monte Alto, em Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrade, ou como é conhecido, Toninho do PSol, é servidor público, Psicólogo e Cientista Político. Toninho candidatou-se a Governador do Distrito Federal em 2006, 2010 e 2014. Oriundo do PT, de onde saiu para ajudar a fundar o PSol, Toninho é daqueles políticos que entende a democracia como um processo de construção diário, e, principalmente, a cada eleição. Por isso, ele não demonstrou até a eleição passada a menor possibilidade de desviar dos propósitos, seus e do seu partido, e menos ainda de seus ideais na construção de “um país mais justo” sem que os partidos e seus líderes precisem se deixar de cumprir o que propõe durante as campanhas, ao chegarem ao poder.
Como bom mineiro, sereno, mas firme, Toninho recebeu o blog e não se esquivou de uma pergunta sequer. Ele fez uma análise das ultimas eleições, da aliança que elegeu o governador Rodrigo Rollemberg, dos primeiros cem dias do seu governo e do atual momento por que passa o PT nacional e local.
BLOG – Que análise o senhor faz do cenário e do resultado das últimas eleições ao GDF? E para o PSol, qual o saldo do pleito de 2014?
TONINHO – Como mostram os gravíssimos fatos vindos à tona com a Operação Lava Jato até o presente momento, o processo eleitoral brasileiro está irremediavelmente comprometido pela corrupção oriunda do financiamento privado das campanhas políticas. Aqui no Distrito Federal não foi diferente. As chamadas grandes coligações, lideradas pelo PT, PMDB, PTB, PSDB, PV, PP, PDT, PSB e legendas de aluguel a serviço desses partidos, usaram e abusaram do financiamento privado em suas campanhas. Via de regra, as mesmas empreiteiras que estão envolvidas nos mais recentes escândalos, ou financiaram essas campanhas diretamente ou o fizeram através de subsidiárias e testas de ferro. Basta que o cidadão acesse a prestação de contas dos candidatos majoritários e principalmente dos eleitos para deputados, que verão o rastro das empreiteiras nas generosas “doações legais” de campanha. Para nós do PSOL, a eleição de 2014 foi mais uma etapa no longo processo de acúmulo de forças de um partido genuinamente de esquerda, socialista, democrático e popular. Foi possível debater em todos os espaços abertos pelas emissoras de rádio e televisão e em outros meios de comunicação, como os blogs e sites, o nosso programa e o nosso projeto de governar o Distrito Federal com ética e honestidade, defendendo um governo de participação e controle da população sobre suas ações. O PSOL se tornou mais conhecido em nossa Capital e mais candidatos se firmaram como alternativa de segmentos organizados de nossa sociedade. Não conseguimos eleger nossos parlamentares, devido principalmente à perversa exigência da Lei Eleitoral, que privilegia as alianças espúrias, feitas exatamente para impedir que partidos ideológicos de esquerda possam eleger seus representantes.
BLOG – O senhor acha que as esquerdas saíram, de fato, vitoriosas com a escolha de Rollemberg para o GDF?
TONINHO – A aliança que elegeu Rodrigo Rollemberg pode ser tudo menos uma aliança de esquerda. Vendo os partidos que estão em sua base de apoio e sustentação, vendo as alianças costuradas por Celina Leão na Câmara Legislativa para dar apoio a Rollemberg, as “visitas” de cortesia a Joaquim Roriz e outros líderes da direita e da centro direita feitas pelo governador, sua aproximação com Marconi Perillo, em Goiás, a repetição de um formato de governar muito parecido com o de Agnelo Queiroz – um populismo de “esquerda”, enfim, tudo isso para mim não tem nada de progressismo e socialismo, ao contrário, é a repetição da velha forma de governar seguindo um modelo populista, onde o povo passa longe de ser protagonista de qualquer coisa, aliás como fazia o falecido líder do PSB em Pernambuco, o ex-governador Eduardo Campos.
“Hoje não há nenhuma diferença entre o PSDB de Aécio Neves e o PT de Lula, Dilma e de outros dirigentes que, além de se perpetuarem no poder, tem os mesmos financiadores de suas campanhas”.
BLOG – Se fosse do PT, depois das eleições locais e no momento como o atual no DF, que sugestão o senhor daria ao seu partido? O que o militante Toninho faria em uma situação dessas?
TONINHO – Ainda bem que percebendo o afundamento do barco petista, lá em 2005, nós saímos e resolvemos fundar o PSOL para continuar a luta em defesa do socialismo e das reivindicações históricas de nosso povo. Hipoteticamente falando, se estivesse ainda no PT, eu convocaria a militância desse partido, que ainda tem as mãos limpas, para fazer a sua dissolução e fundar um novo partido, sem mensaleiros e caciques que se adaptaram ao modo de fazer política daqueles que tanto criticavam ao longo de sua história. Hoje não há nenhuma diferença entre o PSDB de Aécio Neves e o PT de Lula, Dilma e de outros dirigentes que, além de se perpetuarem no poder, tem os mesmos financiadores de suas campanhas como disse na outra resposta. São todos farinha do mesmo saco, como diz o ditado popular.
“Devido à amplitude de sua aliança para governar, Rodrigo já não tem mais autoridade para realizar eleições diretas para administradores regionais”.
BLOG – O governador Rodrigo Rollemberg teve como uma das suas principais bandeiras de campanha eleição direta para administrador regional. Não apenas não a fez até agora, como distribuiu as administrações aos aliados, outra prática que ele condenava e que prometia abolir. Como o senhor analise isso?
TONINHO – A pergunta contém a resposta de forma direta e sem rodeios. Devido à amplitude de sua aliança para governar, Rodrigo já não tem mais autoridade para realizar eleições diretas para administradores regionais. Já está tudo dominado pelos partidos e líderes que fizeram a partilha dessas instâncias. Tomara que a pressão popular mude outra vez a disposição de Rollemberg para realizar essa promessa de campanha. Torço para que o Estado seja cada vez mais democratizado. Sou cético em relação a isso, considerando o que vimos nestes 100 dias de governo.
“Um governo pífio. Não pode ficar colocando a culpa de seu fracasso no pior governo que o Distrito Federal já teve, que foi o governo de Agnelo Queiroz, pois já se passaram 100 dias e muito pouco foi feito”.
BLOG – Que análise o senhor faz dos primeiros cem dias do governo de Rodrigo Rollemberg?
TONINHO – Um governo pífio. Não pode ficar colocando a culpa de seu fracasso no pior governo que o Distrito Federal já teve, que foi o governo de Agnelo Queiroz, pois já se passaram 100 dias e muito pouco foi feito. A figura de “bom moço”, que acabou empolgando o eleitorado em 2014, está, aos poucos, se desmanchando no ar. A realidade é que a população está percebendo que Rodrigo está fazendo um governo muito igual a todos que passaram pelo Buriti nos últimos anos. Ainda há tempo para mudar os rumos do governo. Tem dirigentes nessa aliança que governa o DF com um passado importante na história das lutas sociais e populares, que podem influenciar um caminho mais à esquerda para o governo. Insisto, porém, que os sinais nesses 100 dias não são encorajadores nessa direção das mudanças que o povo necessita. Basta ver o caos na saúde pública, nenhum ato de mudança efetiva na educação, na segurança pública ou nas áreas que lidam diretamente com as camadas populares. Sem falar que as empresas que sempre mandaram e desmandaram no GDF, as terceirizadas e outras, continuam dando as cartas, inclusive com forte apoio parlamentar ao governo.
“O PSOL não participaria de um governo como esse”.
BLOG – Como o senhor e o seu partido pretendem se posicionar em relação ao GDF? Aceitaria assumir algum cargo, caso convidado, ou já foi convidado?
TONINHO – O PSOL tomou uma posição amadurecida, bem discutida internamente, no Distrito Federal e nacionalmente, de nos colocarmos como uma força oposicionista ao novo governo, considerando todos os fatores contidos nesta entrevista. O PSOL não participaria de um governo como esse. Torço, de forma sincera, como cidadão e morador de nossa Capital, que os serviços públicos melhorem, que haja um maior controle popular sobre a gestão pública, que os recursos financeiros do Estado sejam direcionados para obras de relevante interesse social, que a corrupção e o tráfico de influência de empreiteiras sejam eliminados e combatidos. O PSOL não torce pelo quanto pior, melhor! Mas pelo que vimos nesses 100 primeiros dias, o barco e seu timoneiro perderam o rumo da construção de um governo verdadeiramente democrático e popular! Uma pena!
Fonte: Blog do Professor Chico