Em ato de desespero, governador atribui às entidades sindicais os problemas da falta de gestão da Saúde
Por Kleber Kaprov
Durante a entrega de escrituras na Região Administrativa de Ceilândia, nesta sexta-feira (16/Jun), o governador do DF, o socialista, Rodrigo Rollemberg (PSB), atacou frontalmente representantes de entidades sindicais ligados à Saúde do DF. Entre os atacados está o presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SINDMÉDICOS-DF), Gutemberg Fialho. Segundo Rollemberg, o sindicalista são os verdadeiros responsáveis pela privatização do segmento.
“Se está faltando médico nos hospitais, veja quanto ganha o presidente do Sindicato dos Médicos [Gutemberg Fialho], sem trabalhar. Veja quanto é o salário dele. Na rede privada ele trabalha, mas na rede pública ele não trabalha. São essas pessoas que estão impedindo o governo de melhorar a saúde”, disse Rollemberg.
Em clara defesa ao PL. 1.486/2017, que institui o Instituto Hospital de Base do DF (IBHDF), ou como ficou conhecido, “PL Frankenstein”, Rollemberg ignorou a própria Lei Complementar 840/2011, que regulamenta, no Distrito Federal, a dispensa de representantes de entidades sindicais para o exercício do mandato classista.
Confira o vídeo
Apoio
Na rede social, Facebook, o secretário de Estado de Saúde do DF (SES-DF), Humberto Lucena Pereira da Fonseca demonstrou apoio ao chefe do Executivo. “Nosso governador expressando o que está no coração da cidade toda: A saúde das pessoas tem que estar em primeiro lugar!”.No entanto, Fonseca é alvo de duras críticas em relação à equívocos na gestão da saúde, a exemplo da falta de dimensionamento do quadro de pessoal, do engavetamento da redução do banco de Horas Extras, de políticas equivocadas, falta de planejamento, entre outras. A mais recente foi a sugestão de implantação do Estratégia Saúde da Família (ESF), para resolver o caos na emergência do HRT e demais hospitais do DF.
Reação Sindical
Ao Política Distrital (PD), o vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF (SINDATE-DF), Jorge Vianna, sugeriu que Rollemberg está tentando a “última cartada” para tentar emplacar o IHBDF.
“O governador quer que nós servidores e entidades ligadas à Saúde passemos um cheque em branco para que ele possa dar início a um processo de entrega das unidades de saúde do DF à iniciativa privada, às organizações sociais, mesmo que por meio de contrato com um Instituto. E isso nós não podemos aceitar.”, disse Vianna.
Para o Sindicalista, Rollemberg tenta enganar a população ao omitir as reais intenções do PL do IHBDF. “O governador se diz tão preocupado com a Saúde, mas a única ação efetiva por parte do governador, foi tentar entregar a saúde para a gestão terceirizada. O governador nunca valorizou os servidores que dão a alma para tentar garantir, o mínimo de dignidade à população quando precisa de atendimento no sistema público. Todo mundo assistiu as perseguições com retirada de benefícios dos servidores, o corte de ponto dos trabalhadores que foram cobrar um direito previsto em Lei. Nossa categoria dá o sangue para tentar garantir atendimento à população e é isso que o governador faz? Tentar jogar a população contra os servidores? E mais, quer dizer que a falta de medicamentos, de equipamentos, de roupas, de manutenção de equipamentos, de pessoal, o projeto engavetado de reestruturação o quadro de servidores é culpa dos sindicalistas? Ou será que o governo é que demonstra total incapacidade de fazer planejamento, controle e de gestão?”, questionou Vianna.
O Sindicato dos Médicos do DF (SINDMÉDICO-DF), publicou Nota Oficial em que Rollemberg se contrapõe ao meio sindical e em nome da suposta defesa da Saúde e dos interesses da população.
Nota pública
Desde o princípio do atual governo a estratégia tem sido a de transferir a responsabilidade dos problemas para a gestão anterior e para os servidores públicos, escolhidos pelo governador, desde os primeiros dias, como inimigos. As recentes declarações dele, que circulam em vídeo pelas redes sociais, cheias de ódio e inverdades, são apenas a repetição de um comportamento recorrente.
Em relação ao desempenho da função de representante classista, cabe ressaltar que o Sindicato dos Médicos do Distrito Federal tem seus dirigentes enquadrados no que é previsto pelo Decreto 33.652/2012, que define na alínea b de seu artigo 5º, a liberação de “um dirigente para cada grupo de dois mil servidores filiados, além dos dirigentes previstos na alínea a, até o limite de dez dirigentes “. O exercício da atividade sindical é legítimo e justo, e por ser feito incansavelmente e com trabalho árduo e diário é que talvez esteja deixando o governador nervoso e descontrolado, ao ver seu desgoverno ser escancarado para a opinião pública.
Sindicatos existem para defender os direitos dos trabalhadores e as condições de trabalho deles. Melhorar as condições de trabalho dos médicos e demais servidores da saúde implica, também, em melhorar as condições de atendimento à população. E temos trabalhado para isso.
Temos sido uma pedra no sapato do governador, porque temos cobrado dia após dia a resolução dos problemas. Fizemos isso no governo anterior e no que veio antes dele. Vamos denunciar e reclamar enquanto houver motivo para isso. Mesmo que governadores e secretários tenham ataques de raiva por causa disso.
Ele, com certeza, está muito aborrecido por termos feito um levantamento dos problemas na saúde de Ceilândia no mês de maio. Também está muito aborrecido porque somos contra a privatização, venda ou terceirização do Hospital de Base. É uma atitude antidemocrática e autoritária tentar calar a representação legitimamente eleita pelos trabalhadores.
Temos resistido ao desmonte da saúde pública, que é mais acelerado neste governo do que em qualquer outro: diminuição de investimentos, falta de materiais e medicamentos, fechamento e suspensão de serviços e um aumento da mortalidade nos hospitais, como nunca se viu na história de Brasília. Gostaríamos de ver o governador indignado com isso e tomando alguma atitude para resolver em vez de mostrar destempero contra quem lhe cobra atitude.
Sindicatos não participam da elaboração de orçamentos, não realizam compras, não definem políticas de saúde. No máximo, apresentam sugestões e apontam erros. Fizemos isso até onde foi possível, mas o governador e seu secretário de Saúde há muito tempo pararam de nos ouvir, se algum dia o fizeram.
O governador Rollemberg está em campanha para reverter a péssima reputação que construiu em dois anos e meio de governo, e agora elegeu os médicos, justo os médicos, os inimigos da saúde. Tentar jogar a população contra os servidores públicos só revela a face que Rodrigo Rollemberg escondeu na última eleição. Não estamos surpresos, tampouco intimidados pelo destempero demonstrado. Acreditamos que Brasília merece muito mais do que isso de um governador.”
Para a presidente do Sindicato dos Enfermeiros do DF (SINDENFERMEIRO-DF), Dayse Amarílio Rollemberg tenta garantir a sobrevivência política, ao utilizar o pretexto do Instituto para promover o projeto de reeleição.
“A fala de Rollemberg só demonstra o seu desespero para aprovação do Projeto o qual será importante para quitar suas dívidas e ter que usar como campanha para a reeleição. Infelizmente, o Instituto não será a solução para a Saúde do DF que está em colapso. Ao contrário, sendo o único hospital terciário da rede, não conseguirá dar suporte a toda rede que continuará sem autonomia financeira e de gestão, piorando a Saúde do DF.”, disse Dayse Amarílio.
O Sindicato dos Técnicos e Auxiliares em Radiologia do DF (SINTTAR-DF), por sua vez promete entrar, independente de outros sindicatos, com ação judicial contra Rollemberg. “O Sindicato quer a retratação e indenização por danos morais e materiais”, disse o presidente do SiNTTAR, Ubiratan Goncalves Ferreira.
Ao Metrópoles a presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Saúde do DF (SINDSAÚDE-DF), também se manifestou e foi taxativa ao sugerir que Rollemberg “está sendo pressionado pelos seus apoiadores e financiadores de campanha”.
Enquanto isso
Se de um lado Rollemberg ataca as entidades sindicais, por outro lado, a caneta do socialista, funcionou a ‘mil por hora’ no Diário Oficial, onde nomeações atendendo interesses de alguns parlamentares foram consideradas por alguns personagens políticos, “um gesto de garantia de aprovação do PL do IHBDF”. Nesse sentido, a folha suplementar do DODF, poderá demonstrar que, eventualmente, qualquer semelhante, pode não ser mera coincidência.
Rollemberg tenta…
Enquanto o GDF sustenta que o PL do IHBDF é inspirado no modelo de administração da Rede Sarah Hospitais de Reabilitação, a proposta dá autonomia à unidade. O instituto terá quadro de funcionários próprio, ainda que com 100% de recursos públicos e de atendimento pelo Serviço Único de Saúde (SUS).
Só os sindicatos governador?
Por outro lado, a própria Presidente da Rede Sarah Kubitschek, Lúcia Willadino Braga, na última semana, criticou o PL. 1.486/2017 do IHBDF, desconstruiu o discurso utilizado pelo GDF em relação a semelhança entre o instituto e a Rede Sarah. além de observar que e, em vez de utilizar o HBDF para laboratório que escolhessem um hospital de menor porte.
“Se tivéssemos sido consultados a respeito do projeto, nossa sugestão seria que um novo modelo fosse implantado em uma unidade de menor porte, em caráter piloto, e não no Hospital de Base.”, disse Lúcia Willadino em entrevista ao Correio Braziliense.
Aliás, em se tratando de IHBDF, aparentemente, tirando a base do governo na CLDF e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), parte relevante de especialistas em Saúde, promotores do Ministério Público Federal (MPF) e auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) ou ainda da Defensoria Pública da União (DCU) e até mesmo a Pastoral da Criança Opinião
Se Rollemberg quis acertar os representantes de entidades sindicais, acertou em cheio os servidores da SES-DF que reagiram nas redes sociais contra o socialista. Mais que isso, se os profissionais de saúde até então resistiam em se mobilizar para protestar contra o IHBDF.
Certamente o chefe do Executivo deu o empurrão que faltava para que, na tarde de terça-feira (20/jun), a galeria da Câmara Legislativa fique lotada de servidores da Saúde, contrários tanto ao IHBDF, quanto ao massacre promovido pelo governo, contra o funcionalismo público, desde o início do governo.
Com informações de Metrópoles, Correio Braziliense, Agência Brasília
Atualização: 16/6/17 às 23h15 para atualização de informação