Ele disse que ‘agente’ prometia agilizar pagamentos em troca de propina
Em áudio com sindicalista, ele relatou saber de irregularidade no governo
Por Mateus Rodrigues
O vice-governador do Distrito Federal, Renato Santana, detalhou à CPI da Saúde nesta quinta-feira (21) a denúncia, recebida por ele e citada em áudios divulgados na última semana, de um suposto esquema de propina de 10% em contratos da Secretaria de Fazenda. Segundo ele, as informações chegaram ao GDF em abril de 2016 e foram levadas imediatamente ao governador Rodrigo Rollemberg.
De acordo com Santana, um grupo de quatro empresários procurou a vice-governadoria para denunciar o esquema. Eles disseram ter sido abordados por um agente chamado Marcelo Radical, que prometeu “agilizar” pagamentos de dívidas pendentes de 2014 pela organização de eventos culturais como Festival de Cinema, Fifa Fan Fest, Motocapital e festa de réveillon.
O homem teria apresentado aos empresários telas do Sistema de Gestão Governamental (Siggo), de acesso restrito ao GDF, dizendo ter “relacionamento com quem autorizava o pagamento na Fazenda”. Em troca da quitação das faturas, que somavam R$ 2,17 milhões, Radical cobrava o repasse de 10%, segundo a denúncia feita a Santana.
O vice afirma que, ao ouvir a denúncia, chamou o então secretário-adjunto de Fazenda, João Antônio Fleury, para que tomasse conhecimento. O caso foi repassado a Rollemberg dois ou três dias depois, na residência oficial em Águas Claras, junto com as planilhas de débitos e um bilhete manuscrito dos empresários.
“Cheguei para ele e disse: ‘Governador, recebi um grupo de empresários que me trouxe esse relato, de que um agente procurou por eles oferecendo alternativa de agilizar o pagamento e pedindo vantagens’”, disse Santana à CPI. Ele não comentou o andamento posterior do caso.
“Não me sinto traído porque não tenho relação nenhuma com ela, nem receio de absolutamente nada que está colocado nas gravações com relação à minha dignidade”
Renato Santana, vice-governador, ao falar sobre gravação feita pela presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues
Pela manhã, Marli Rodrigues afirmou à CPI que Santana atribuiu a Rodrigo Rollemberg a autorização para a cobrança de suposta propina. Em um trecho do diálogo gravado entre o vice e a sindicalista lido em plenário, Santana diz: “Autorizou a pagar 10% de propina. Eu não autorizei, mas o assunto chegou para mim”.
Ao comentar a fala de Marli, o vice disse que “repudia veementemente” a citação e que não se referia a Rollemberg no áudio. Questionado várias vezes por Wasny de Roure (PT), o político não informou de quem teria partido a autorização citada.
Áudios divulgados
Questionado sobre as declarações dadas por Rollemberg após a divulgação dos áudios, Santana negou que haja “qualquer contenda” entre governador e vice. Segundo ele, a reação aos áudios indica que “tem muita gente assistindo ao House of Cards”, em referência à série sobre política que é exibida por um canal de filmes.
“Por que estou dizendo isso? Porque a cena de Brasília, uma cidade tão jovem, não permite mais que irresponsáveis e incendiários mudem o foco daquilo que deve ser apurado. Não podemos permitir que sinais de desvio de conduta, em qualquer que seja a esfera, que isso tome corpo”, declarou Santana.
O vice-governador afirmou que não se sente traído pela autora das gravações e presidente do sindicato dos servidores da saúde (SindSaúde), Marli Rodrigues. “Não me sinto traído porque não tenho relação nenhuma com ela, nem receio de absolutamente nada que está colocado nas gravações com relação à minha dignidade”, disse.
Depoimento
A presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, entregou nesta quinta-feira à CPI um “organograma” manuscrito e um DVD com gravações que ela diz comprovarem um suposto esquema de propina na pasta. O conteúdo das gravações não foi revelado.
Questionada pelo deputado Reginaldo Veras (PDT), Marli disse que o ex-subsecretário de Infraestrutura e Logística da Secretaria de Saúde Marcos Júnior fez o documento enquanto explicava a ela as supostas irregularidades na pasta. Ela afirmou que ficou com o documento depois da conversa, que ocorreu em maio.
A presidente do sindicato acusou o governador Rollemberg e a mulher dele, Márcia, de ligação com irregularidades, mas, questionada pelos deputados, se negou a dar detalhes do suposto esquema, alegando que atrapalharia investigações em curso pelo Ministério Público do DF e pelo Ministério Público de Contas. Ela afirmou ter entregue todas as gravações e documentos aos órgãos (veja vídeo).
Questionado por jornalistas após a CPI, o governador Rollemberg disse que as acusações de Marli contra ele e a mulher dele eram infundadas e queria se pronunciar à Justiça. Em entrevista, o governador disse que a sindicalista iria “pagar caro” pelas acusações.
Fonte: G1